quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Dengue na infância e na gravidez



    O quadro clínico na criança, na maioria das vezes, apresenta-se como uma síndrome febril com sintomas inespecíficos, como apatia ou sonolência, recusa da alimentação, vômitos e diarréia. Nos menores de dois anos, os sintomas cefaléia, mialgias e artralgias podem manifestar-se por choro persistente e irritabilidade, geralmente com ausência de manifestações respiratórias, podendo confundir-se com outros quadros infecciosos febris próprios dessa faixa etária. 
    Deve-se ter atenção, pois, na criança, o quadro clínico de dengue com manifestações hemorrágicas, pode passar despercebido. Essas formas graves surgem, geralmente, em torno do terceiro dia de doença, acompanhadas ou não da diminuição da febre. Na criança menor de cinco anos, o início da doença também pode passar despercebido e o quadro grave ser identificado como a primeira manifestação clínica. O agravamento costuma ser súbito, diferentemente do agravamento do adulto que ocorre de forma gradual.
    Nos pacientes menores de seis meses é importante investigar a história materna de dengue, considerando a possibilidade de passagem de anticorpos maternos para a criança. A hidratação oral ou venosa e a observação clínica do paciente também são de grande importância. Não esquecendo de repor as perdas que eventualmente possam ocorrer por vômitos ou diarréia.
    O risco de a gestante adquirir dengue é o mesmo de qualquer outro indivíduo. Apesar das epidemias ocorridas, má formação congênita não tem sido relatada como associada à dengue. Alguns casos recentes evidenciaram que, se a mãe estiver infectada com o vírus da dengue em um período próximo ao nascimento do bebê, a criança poderá nascer infectada ou adquirir a doença no momento do parto. Em outros casos, mulheres grávidas apresentaram, de acordo com a idade gestacional, ameaça de aborto ou de parto prematuro, síndrome hipertensiva da gestação, pré-eclampsia e eclampsia, todos associados à dengue hemorrágica, com risco de choque hipovolêmico em período próximo ao parto.
    O diagnóstico precoce da dengue pode ser dificultado pela possibilidade de confusão com alterações fisiológicas da própria gestação. Dessa forma, esse diagnóstico vai depender da observação atenta aos sinais clínicos e de alarme, e seu tratamento exige uma equipe de saúde preparada para a abordagem apropriada da mãe e do filho.



domingo, 15 de novembro de 2009

Vacina Anti Crack e Cocaína: Um caminho pra cura?

A vacina contra a cocaína e o crack, desenvolvida em 1996, entra na terceira e última fase de experimentação humana. Essa fase é dedicada a estudos comparativos sobre a eficácia da vacina preparada pela Immunologic Pharmacological Corporation. A licença para a comercialização foi solicitada pelo grupo britânico Xenova.

Segundo o laboratório produtor, a vacina é composta por uma molécula de cocaína, ácido carbônico e uma proteína transportada da toxina da cólera asiática.

Na segunda fase experimental, 35 norte-americanos usuários de cocaína receberam quatro aplicações de 400 microgramas e, nos seus organismos, verificou-se a formação de anticorpos anti-cocaína. Os anticorpos aderem à cocaína ingerida que ingressa na corrente sanguínea. Com a fixação, ocorre um bloqueio, que impede sua passagem para o cérebro. Os pesquisadores afirmam que a vacina reduz o uso da droga aumentando o nível de anticorpos contra a cocaína, o que a deixa inativa antes de alcançar o cérebro e produzir o efeito de euforia.

Foram animadores os resultados colhidos nesta fase, pois 75% dos 35 vacinados se desintoxicaram - ficaram "limpos" -, em 12 semanas. Dos submetidos à vacinação, 88% falaram de redução da euforia provocada pela ingestão da cocaína.

A experiência alcançou 114 dependentes de crak (cocaína sólida, de efeito mais rápido, através do fumo). Passadas 12 semanas e em face do uso das quatro doses da vacina, 30% dos testados não apresentavam resíduo de cocaína na urina.

Para os especialistas, tudo indica que a eficácia da vacina ficará comprovada e, em breve, o produto será colocado no mercado.

Durante o ensaio clínico de seis meses conduzido por pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Yale e do Baylor College of Medicine, 38% dos pacientes vacinados produziram um nível de suficiente de anticorpos para bloquear os efeitos da droga.


Os efeitos da vacina, no entanto, não persistiram por mais de dois meses. “Um ótimo tratamento necessitaria, sem dúvida, de vacinações repetidas para manter o nível de anticorpos adequado”, escrevem os autores do estudo, publicado neste mês na revista científica Archives of General Psychiatry.
O principal autor da pesquisa, Thomas Kosten, trabalha na busca de uma vacina contra os efeitos da cocaína há quinze anos. “Há quinze anos, todo mundo dizia que era impossível produzir anticorpos contra pequenas moléculas como esta”, disse Kosten. O ensaio clínico foi realizado com 115 dependentes de cocaína, 58 das quais receberam a vacina e 57 foram tratadas com placebo – uma substância inerte.  No grupo, o consumo da droga caiu e algumas pessoas deixaram de usá-la.




Thomas R. Kosten, M.D. é Doutor de Psiquiatria e Neurociência da Baylor College of Medicine e ex-chefe da Psiquiatria da Universidade de Yale. Ele é Diretor de Pesquisas da  Quality Enhancement Research Initiative (QUERI) e fundador da Divisão de Abusos de Substâncias Químicasda Baylor e Yale.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

USP desenvolve pele artificial para evitar testes com animais

Fonte: Folha Online

Um laboratório da Universidade de São Paulo – USP desenvolveu uma pele artificial que pode substituir as cobaias nos testes de cosméticos e, em alguns casos, farmacológicos. "Desenvolvemos uma estrutura de pele completa, com três elementos", diz Silvya Stuchi, professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP responsável pela pesquisa: "o melanócito, responsável pela pigmentação; o queratinócito, responsável pela proteção; e o fibroblasto, segunda camada", explica.














De acordo com a pesquisadora, já existem outros modelos de pele artificial sendo utilizados nos Estados Unidos e Europa. Entretanto, sua utilização no Brasil é virtualmente nenhuma, devido às dificuldades de transporte e importação, já que a pele artificial é um material vivo e sensível. As empresas optam por enviar os princípios ativos dos cosméticos para testes no exterior. O problema é que a indústria brasileira gasta muito para fazer testes em outros países.


Tendência: sem animais

"Esse ano, a Europa aboliu testes em animais para cosméticos ", afirma a professora Silvia Berlanga, corresponsável pela pesquisa na USP. "É uma tendência mundial."
Para cosméticos como filtro solar e creme antirrugas, a questão fica mais fácil de resolver com a pele artificial e por isso animais já foram totalmente substituídos no continente europeu. “Porém, a questão fica mais difícil no que toca à indústria farmacêutica”, diz Berlanga. "Os medicamentos podem envolver também ingestão via oral, ou mesmo endovenosa (pelo sangue)", explica. Nesse caso, o que ocorreu foi a redução do uso de animais, pois, ao menos certas etapas de testes puderam ser substituídas.


Motivações

O representante da Interniche (International Network for Humane Education) no Brasil, o biólogo e psicólogo Luís Martini, estima que 115 milhões de animais ainda sejam usados por ano no mundo em experimentos e testes.
Uma motivação para a transferência para modelos de laboratório é a vantagem científica de se utilizar a pele da própria espécie humana, que é específica. "Assim trabalha-se com algo mais fidedigno ao que é real", explica a professora Silvya Stuchi.
Martini esclarece ainda que, devido às diferenças fisiológicas entre as espécies, há "inúmeros casos em que medicamentos que foram desenvolvidos e testados em animais tiveram que ser retirados do mercado por terem causado efeitos adversos severos quando utilizados por seres humanos".
Outro motivo é a "ética da experimentação" ao lidar com os animais, como diz Berlanga. "Mesmo que fique mais caro com a pele artificial, é importante reduzir o uso de animais", defende.
George Guimarães, presidente do grupo Veddas, de defesa dos direitos animais, vai mais além. "Consideramos isso [uso de animais] inaceitável do ponto de vista moral e ético, uma vez que esses animais não escolheram ser usados para servir aos nossos interesses."
Martini completa dizendo que "os experimentos em animais causam dor e sofrimento". Assim, "segundo o princípio da igual consideração de interesses semelhantes, deveríamos respeitá-los nos seus direitos básicos que são o direito à vida, à integridade física e à liberdade."


Desenvolvimento

A matéria-prima utilizada para criar a pele vem de doadores humanos que se submetem a cirurgias plásticas. As células colhidas são cultivadas em placas de Petri, onde são formados os tecidos, incluindo a derme e epiderme.
O objetivo original do desenvolvimento da pele, no entanto, era estudar o melanoma, um tipo grave de câncer de pele. De lá para cá, a professora Stuchi cita dois marcos decisivos para o êxito do projeto. O primeiro foi a parceria com os pesquisadores do Instituto de Pesquisa do Câncer Ludwig, estabelecido no Hospital do Câncer em São Paulo, com quem aprendeu muito o isolamento das células, a partir de 2005.
O segundo marco se deu através de uma bolsa da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) entre 2007 e 2008, que viabilizou sua temporada como pesquisadora visitante na Universidade de Michigan, EUA. Lá, Stuchi adquiriu diversos tipos de tecidos de pele humana e pôde testá-los no Brasil, aprofundando seus conhecimentos sobre a estrutura da pele.
















Dra. Sylvia Stuchi

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O perigo que vem do campo (continuação)

Antibióticos no gado criam bactérias hiperresistentes


No Hospital John Hopkins, Silbergeld decidiu concentrar sua pesquisa inicial sobre os aspectos de saúde ocupacional da agricultura industrial. Com cinco co-autores da Escola Bloomberg e da Faculdade de Medicina, publicou nos EUA o primeiro estudo de base sobre pessoas que trabalhavam com aves, colonizados por micróbios resistentes, relatando que 50 por cento dos trabalhadores pesquisados tinham E. coli, que era resistente aos antimicrobianos gentamicina, comparados a apenas 3 por cento dos membros da comunidade que não trabalhavam com aves. Ela estudou a associação entre o contato profissional com galinhas vivas, Campylobacter jejuni, e neuropatia periférica, e encontrou uma presença significativamente elevada de anticorpos anti-Campylobacter em avicultores, indicando colonização. Muitos desses trabalhadores também relataram sintomas de doenças neurológicas associadas ao patógeno. 


Pesquisadores de outras instituições ao redor do mundo relataram associações similares. Na avicultura industrial ou em fazendas de suínos, havia bactérias resistentes aos medicamentos colonizando trabalhadores rurais e suas famílias. Em 2003 e 2004, Kellogg Schwab recolheu amostras do ar em uma fazenda/fábrica que abrigava três mil porcos em dois edifícios. As amostras continham enterococos, estafilococos e estreptococos, e 98 por cento dos isolados bacterianos foram resistentes a dois ou mais antimicrobianos comum. Em um estudo publicado no Environmental Health Perspectives, Schwab sugeriu que a única forma de bactérias terem passado de animais para humanos era através dos trabalhadores que respiraram aquele ar.
Em outro estudo, de 2002 a 2004, Schwab recolheu amostras de água de superfície e subterrâneas de uma fazenda de suínos. Ele e seus co-pesquisadores descobriram que a água subterrânea - ou seja, a água que vem das granjas de suínos - continha 17 vezes mais enterococos, 11 vezes mais E. coli  e 33 vezes mais coliformes fecais do que a água de superfície. Os patógenos encontrados em nível inferior também eram muito mais propensos a serem resistentes a antibióticos.


Cientistas sabem que patógenos resistentes podem viajar de fazendas por ar, água, pássaros, moscas, caminhão de galinha, ou espalhador de estrume, mas eles ainda não têm uma boa resposta para a distância que podem viajar ou por quanto tempo podem permanecer viáveis. Só porque um pesquisador detecta estafilococos resistentes a drogas em uma amostra de ar, não significa que estejam propensos a deixar alguém doente. 
Porém, um meio de transporte que pode cobrir distâncias significativas é o de pessoa a pessoa - o trabalhador agrícola, por exemplo, contamina-se com bactérias em uma granja de frango e as transmite para um membro da família, que as passa para um membro da comunidade, que as levará para uma clínica de saúde ou hospital, onde passarão a residir, causando infecções resistentes a antibióticos em pacientes cirúrgicos e imuno-comprometidos. Durante anos, cientistas, médicos e público vêm considerando o aumento de infecções resistentes às drogas como um problema hospitalar (ver "Bugs contra as drogas", Johns Hopkins Magazine, fevereiro de 2008). É onde micróbios perigosos como enterococos resistentes à vancomicina (VRE) e o Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) se disseminam.


Entretanto, os hospitais começaram a divulgar, cada vez mais, que pessoas que nunca haviam entrado em uma unidade de saúde já chegavam colonizadas por bactérias resistentes. Pessoas contaminadas com MRSA, por exemplo, que hoje mata mais de 20 mil pessoas a cada ano, mais do que se morre de AIDS.
Há cerca de três anos, Silbergeld começou a pensar sobre MRSA e a agricultura industrial. E não foi a única.


Em novembro de 2006, pesquisadores holandeses relataram o caso de uma jovem mãe tratada em 2004 com mastite.  Culturas realizadas pelo seu clínico geral revelaram a presença de MRSA, que foi depois encontrada em seu marido e filha. Seu marido era pecuarista, com 8 mil suínos, e quando os pesquisadores testaram 10 suínos, escolhidos ao acaso na fazenda, encontraram MRSA geneticamente idênticas em oito deles, e o mesmo em três outros trabalhadores da fazenda.
Os mesmos resultados foram encontrados tanto no Canadá como nos EUA.


Em meio aos estudos, a indústria de alimentos se defende dizendo que a culpa da existência de bactérias resistentes é do próprio homem e não do uso de drogas nos animais.


Esse debate desespera Silbergeld, que diz: "Estes são os aditivos alimentares. É como usar antibióticos como tintura de cabelo." Ela acrescenta: "Nós temos esta prática de permitir a adição de praticamente qualquer antibiótico que você pode imaginar para alimentação animal, sem nenhum objetivo terapêutico, em condições que só favorecem o surgimento da resistência. Nós não temos nenhum controle ou gestão de resíduos. Nosso sistema de segurança alimentar é uma balbúrdia. Essa é uma situação amplamente reconhecida pela Organização Mundial de Saúde, a Sociedade Médica Americana, e por outros, e nada acontece!”


Silbergeld e Schwab apoiam o uso de drogas para tratar os animais doentes, mas acreditam que todos os antibióticos devem ser banidos das rações animais. 


Eles acompanharam o debate sobre o cefquinoma, uma cefalosporina de quarta geração. Uma empresa de Delaware, Intervet Inc., quer a aprovação da FDA para usar o cefquinoma no tratamento da doença respiratória dos bovinos. Mas o antibiótico é quimicamente relacionado ao cefepime, uma das poucas opções restantes para o tratamento de infecções fatais em pacientes com câncer. Cientistas temem que, se os patógenos desenvolverem resistência ao cefquinoma, essa resistência poderia rapidamente arruinar o cefepime para uso humano. A Associação Médica Americana, vários outros grupos da saúde, e o próprio grupo consultivo do FDA têm pedido à agência para rejeitar a droga no uso em animais de fazenda, mas esta ainda não se pronunciou. Silbergeld está desolada.


por Dale Keiger, Editor-associado da Universidade John Hopkins Magazine

terça-feira, 15 de setembro de 2009

A Importância do Psicólogo no Home Care

por Raquel da Silva Martins


A internação domiciliar se caracteriza por uma dinâmica de relações afetivas muitas vezes complexas, pelo entrelaçamento de experiências das pessoas envolvidas: paciente, familiares e equipe de saúde.
A tendência é que familiares participem mais ativamente de todo o tratamento, e que os profissionais atuem dentro de um envolvimento mais pessoal. Criando assim um “campo psicológico” menos neutro. Essa proximidade aumenta a possibilidade de conflitos. Acrescente-se a isso o fato de a doença já ser um fator de angústia que desencadeia, em geral, ansiedades, conflitos e fantasias, que envolvem todos.

Um suporte psicológico é extremamente necessário para minimizar e evitar dificuldades que comprometam o tratamento.
Através da avaliação psicológica, identifica-se os mecanismos de defesa, os aspectos psicodinâmicos do adoecer e do contexto domiciliar.
O psicólogo trabalha facilitando a relação família-equipe e/ou paciente-equipe, pois problemas na comunicação podem gerar insegurança e tornar a assistência domiciliar um incômodo para o paciente.
O diálogo constante com outros membros das equipe ajudam a entender as implicações orgânicas de cada caso.
O psicólogo pode levar para os outros membros da equipe, a subjetividade do paciente, do seu cuidador e da família.

Nos atendimentos feitos a 55 pacientes (e suas famílias) sob assistência ou internação domiciliar na Cuidar Home Care, verificou-se que dos pacientes e/ou famílias atendidos pela psicologia, 80% apresentaram queda na ansiedade, 50% apresentaram maior adaptação na internação domiciliar, 55% apresentaram menor resistência ao tratamento, 40% maior adesão e 20% não apresentaram problemas na internação domiciliar. Além disso, a intervenção do psicólogo facilitou a comunicação entre família-paciente-equipe.

A interdisciplinaridade de uma equipe de saúde favorece a compreensão multifatorial da doença, que permite intervenções de caráter global. A atuação da psicologia no atendimento domiciliar direciona-se ao bem-estar emocional do paciente, do cuidador, da família e da equipe, contribuindo para a doença e o sofrimento psíquico associado sejam enfrentados com equilíbrio e o tratamento seja o mais satisfatório possível.

Raquel da Silva Martins é psicóloga da Cuidar Home Care

O perigo que vem do campo


Antibióticos no gado criam bactérias hiperresistentes

Ellen Silbergeld, Eng '72 (PhD), professora de epidemiologia na Universidade de Maryland School of Medicine, foi convidada, em 1999, para um seminário sobre infecções hospitalares. Durante a apresentação, o palestrante mencionou, de passagem, que algumas infecções resistentes às drogas eram provenientes de alimentos.

Naquele momento, isso pareceu estranho à Dra. Silbergeld. Ela sabia que podemos nos contaminar com Salmonella, por exemplo, através de uma salada de frango. Mas como a Salmonella se tornou resistente aos antibióticos? O motivo é que as granjas, rotineiramente, usam antibióticos para alimentar seus rebanhos, para acelerar o crescimento, e, com isso, as drogas utilizadas criam resistência.

Passados dez anos, Silbergeld agora é professora de ciências da saúde ambiental na Escola Bloomberg de Saúde Pública, e uma das várias pesquisadoras da Universidade John Hopkins. Pelo mundo, ela vai reunindo provas de que a produção industrial de frangos, suínos e bovinos está criando mais do que aves e gado. Para aumentar a produtividade, o agronegócio está criando bactérias hiperresistentes. Antimicrobianos, incluindo antibióticos como a penicilina, ciprofloxacina e a meticilina, matam as bactérias patogênicas, mas matam também a unidade de resistência - que é a defesa contra as bactérias -, especialmente quando ministrados em baixas doses subterapêuticas. Os cientistas estimam que entre 50 e 80 por cento de todos os agentes antimicrobianos nos Estados Unidos não são utilizadas pelos médicos para tratar pessoas doentes ou animais, e sim para a exploração animal, principalmente nas tais doses subterapêuticas. Investigadores da saúde pública como Silbergeld estão convencidos de que esse uso não-terapêutico de antimicrobianos é perigoso, por construir reservatórios genéticos de resistência. Se eles estiverem certos, a agricultura industrial está fomentando e dispersando bactérias resistentes aos medicamentos, prejudicando a capacidade da medicina de proteger a população contra elas.

O United States Department of Agriculture (USDA) - departamento de agricultura dos EUA - estima que fazendas e granjas produzem 335 milhões de toneladas de estrume por ano, que é uma das formas de patógenos resistentes sairem dos animais para o meio ambiente. Isso corresponde a 40 vezes mais resíduos fecais do que os seres humanos produzem anualmente. As fazendas usam o esterco como fertilizante e, embora a coleta fique em galpões e lagoas de chorume, essas medidas de contenção não impedem os micróbios infecciosos de entrarem no ar, solo e água. Esses micróbios podem ser transportados para fora das fazendas pelos próprios animais, moscas, caminhões agrícolas e trabalhadores rurais, e através do espalhamento de estrume em outros campos. No ambiente, eles formam uma espécie de banco de material genético que permite a propagação da resistência.

(continua na próxima edição)