quarta-feira, 21 de outubro de 2009

USP desenvolve pele artificial para evitar testes com animais

Fonte: Folha Online

Um laboratório da Universidade de São Paulo – USP desenvolveu uma pele artificial que pode substituir as cobaias nos testes de cosméticos e, em alguns casos, farmacológicos. "Desenvolvemos uma estrutura de pele completa, com três elementos", diz Silvya Stuchi, professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP responsável pela pesquisa: "o melanócito, responsável pela pigmentação; o queratinócito, responsável pela proteção; e o fibroblasto, segunda camada", explica.














De acordo com a pesquisadora, já existem outros modelos de pele artificial sendo utilizados nos Estados Unidos e Europa. Entretanto, sua utilização no Brasil é virtualmente nenhuma, devido às dificuldades de transporte e importação, já que a pele artificial é um material vivo e sensível. As empresas optam por enviar os princípios ativos dos cosméticos para testes no exterior. O problema é que a indústria brasileira gasta muito para fazer testes em outros países.


Tendência: sem animais

"Esse ano, a Europa aboliu testes em animais para cosméticos ", afirma a professora Silvia Berlanga, corresponsável pela pesquisa na USP. "É uma tendência mundial."
Para cosméticos como filtro solar e creme antirrugas, a questão fica mais fácil de resolver com a pele artificial e por isso animais já foram totalmente substituídos no continente europeu. “Porém, a questão fica mais difícil no que toca à indústria farmacêutica”, diz Berlanga. "Os medicamentos podem envolver também ingestão via oral, ou mesmo endovenosa (pelo sangue)", explica. Nesse caso, o que ocorreu foi a redução do uso de animais, pois, ao menos certas etapas de testes puderam ser substituídas.


Motivações

O representante da Interniche (International Network for Humane Education) no Brasil, o biólogo e psicólogo Luís Martini, estima que 115 milhões de animais ainda sejam usados por ano no mundo em experimentos e testes.
Uma motivação para a transferência para modelos de laboratório é a vantagem científica de se utilizar a pele da própria espécie humana, que é específica. "Assim trabalha-se com algo mais fidedigno ao que é real", explica a professora Silvya Stuchi.
Martini esclarece ainda que, devido às diferenças fisiológicas entre as espécies, há "inúmeros casos em que medicamentos que foram desenvolvidos e testados em animais tiveram que ser retirados do mercado por terem causado efeitos adversos severos quando utilizados por seres humanos".
Outro motivo é a "ética da experimentação" ao lidar com os animais, como diz Berlanga. "Mesmo que fique mais caro com a pele artificial, é importante reduzir o uso de animais", defende.
George Guimarães, presidente do grupo Veddas, de defesa dos direitos animais, vai mais além. "Consideramos isso [uso de animais] inaceitável do ponto de vista moral e ético, uma vez que esses animais não escolheram ser usados para servir aos nossos interesses."
Martini completa dizendo que "os experimentos em animais causam dor e sofrimento". Assim, "segundo o princípio da igual consideração de interesses semelhantes, deveríamos respeitá-los nos seus direitos básicos que são o direito à vida, à integridade física e à liberdade."


Desenvolvimento

A matéria-prima utilizada para criar a pele vem de doadores humanos que se submetem a cirurgias plásticas. As células colhidas são cultivadas em placas de Petri, onde são formados os tecidos, incluindo a derme e epiderme.
O objetivo original do desenvolvimento da pele, no entanto, era estudar o melanoma, um tipo grave de câncer de pele. De lá para cá, a professora Stuchi cita dois marcos decisivos para o êxito do projeto. O primeiro foi a parceria com os pesquisadores do Instituto de Pesquisa do Câncer Ludwig, estabelecido no Hospital do Câncer em São Paulo, com quem aprendeu muito o isolamento das células, a partir de 2005.
O segundo marco se deu através de uma bolsa da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) entre 2007 e 2008, que viabilizou sua temporada como pesquisadora visitante na Universidade de Michigan, EUA. Lá, Stuchi adquiriu diversos tipos de tecidos de pele humana e pôde testá-los no Brasil, aprofundando seus conhecimentos sobre a estrutura da pele.
















Dra. Sylvia Stuchi

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