terça-feira, 15 de setembro de 2009

O perigo que vem do campo


Antibióticos no gado criam bactérias hiperresistentes

Ellen Silbergeld, Eng '72 (PhD), professora de epidemiologia na Universidade de Maryland School of Medicine, foi convidada, em 1999, para um seminário sobre infecções hospitalares. Durante a apresentação, o palestrante mencionou, de passagem, que algumas infecções resistentes às drogas eram provenientes de alimentos.

Naquele momento, isso pareceu estranho à Dra. Silbergeld. Ela sabia que podemos nos contaminar com Salmonella, por exemplo, através de uma salada de frango. Mas como a Salmonella se tornou resistente aos antibióticos? O motivo é que as granjas, rotineiramente, usam antibióticos para alimentar seus rebanhos, para acelerar o crescimento, e, com isso, as drogas utilizadas criam resistência.

Passados dez anos, Silbergeld agora é professora de ciências da saúde ambiental na Escola Bloomberg de Saúde Pública, e uma das várias pesquisadoras da Universidade John Hopkins. Pelo mundo, ela vai reunindo provas de que a produção industrial de frangos, suínos e bovinos está criando mais do que aves e gado. Para aumentar a produtividade, o agronegócio está criando bactérias hiperresistentes. Antimicrobianos, incluindo antibióticos como a penicilina, ciprofloxacina e a meticilina, matam as bactérias patogênicas, mas matam também a unidade de resistência - que é a defesa contra as bactérias -, especialmente quando ministrados em baixas doses subterapêuticas. Os cientistas estimam que entre 50 e 80 por cento de todos os agentes antimicrobianos nos Estados Unidos não são utilizadas pelos médicos para tratar pessoas doentes ou animais, e sim para a exploração animal, principalmente nas tais doses subterapêuticas. Investigadores da saúde pública como Silbergeld estão convencidos de que esse uso não-terapêutico de antimicrobianos é perigoso, por construir reservatórios genéticos de resistência. Se eles estiverem certos, a agricultura industrial está fomentando e dispersando bactérias resistentes aos medicamentos, prejudicando a capacidade da medicina de proteger a população contra elas.

O United States Department of Agriculture (USDA) - departamento de agricultura dos EUA - estima que fazendas e granjas produzem 335 milhões de toneladas de estrume por ano, que é uma das formas de patógenos resistentes sairem dos animais para o meio ambiente. Isso corresponde a 40 vezes mais resíduos fecais do que os seres humanos produzem anualmente. As fazendas usam o esterco como fertilizante e, embora a coleta fique em galpões e lagoas de chorume, essas medidas de contenção não impedem os micróbios infecciosos de entrarem no ar, solo e água. Esses micróbios podem ser transportados para fora das fazendas pelos próprios animais, moscas, caminhões agrícolas e trabalhadores rurais, e através do espalhamento de estrume em outros campos. No ambiente, eles formam uma espécie de banco de material genético que permite a propagação da resistência.

(continua na próxima edição)

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