segunda-feira, 30 de maio de 2011

Doenças Auto-imunes - Diabetes

O diabetes acontece quando há acúmulo de glicose no sangue por incapacidade das células de consumi-la para produção de energia.

Isso pode ocorrer principalmente de duas maneiras:

DIABETES TIPO 1 - Ocorre pela destruição das células pancreáticas que são responsáveis pela produção de insulina. Essa destruição é em geral um processo auto-imune (ou seja, os anti-corpos atuam contra o próprio corpo). O resultado é a ausência de insulina e a elevação da glicose sanguínea, chamada de hiperglicemia. O diabetes tipo 1 ocorre geralmente na juventude e deve ser tratado com reposição de insulina. Corresponde a apenas 10% dos caso de diabetes.

DIABETES TIPO 2 - Ocorre por diminuição na produção de insulina, mas principalmente por um mal funcionamento desta. Existe insulina, mas as células apresentam problemas em usá-la para captar a glicose. O diabetes tipo 2 ocorre em adultos, geralmente obesos e com história familiar positiva. O tratamento é feito com remédios que aumentam a afinidade das células pela insulina. Corresponde por mais de 80% dos casos de diabetes mellitus.

Com o tempo o paciente com diabetes 2 também apresenta lesão das suas células beta do pâncreas, passando a precisar também de insulina. Portanto, não se distingue o diabetes 1 do diabetes 2 apenas pela necessidade ou não de reposição de insulina.

Diagnóstico do diabetes mellitus

O diagnóstico do diabetes é normalmente realizado após 2 medições (em dias diferentes) da glicose sanguínea (glicemia) em jejum de 8 a 12 horas. Valores maiores ou iguais a 126 mg/ml, confirmados em 2 exames, indicam diabetes.

O valor normal é menor que 100 mg/dl. Pessoas com glicemia entre 100 e 125, apresentam sinais de resistência a insulina. Esta fase é o chamada de pré-diabetes. É o momento de fazer dieta, emagrecer e começar a praticar exercícios, para evitar a progressão da doença.

O exame de sangue deve ser feito preferencialmente em jejum, mas se o paciente apresenta sintomas de diabetes (descritos mais abaixo), um valor de glicose acima de 200mg/dl, mesmo que realizado sem jejum, também é indicativo de diabetes mellitus.

O exame correto para o diagnóstico é a analise de sangue. As fitinhas para avaliação de glicemia capilar são usadas para controle de diabéticos já em tratamento e não servem para estabelecer o diagnóstico. Obviamente, valores elevados nas fitinhas sugerem o diagnóstico, mas devem sempre ser confirmadas com análises de sangue.

Fatores de risco para diabetes mellitus

·      -   Idade acima de 45 anos
·      -  sobrepeso ou obesidade ( IMC maior que 25 kg/m2)
·      -   História familiar de diabetes
·      - Sedentarismo
·      - Hipertensão
·      - História prévia de diabetes gestacional
·      - Glicemia maior que 100 mg/dl em jejum (pré-diabetes)
·      - Ovário policístico
·      - Colesterol elevado
·    - Uso prolongado de medicamentos como corticóides, tacrolimus, ciclosporina e ácido nicotínico.
·      - Tabagismo
·      - Dieta rica em gorduras saturadas e carboidratos e pobre em vegetais e frutas

Sintomas do diabetes

O diabetes mellitus nas fases iniciais pode ser assintomático. Os seus sintomas são normalmente relacionados ao excesso de açúcar no sangue:

- Sede: A hiperglicemia aumenta a osmolaridade do sangue e desencadeia o mecanismo de sede. O diabético, principalmente quando a glicemia está muito alta, bebe muita água e tem muita sede.

- Urina em excesso: Normalmente o rim não elimina glicose na urina, mas em situações de hiperglicemia, ele faz seu papel de órgão regulador do organismo: excreta o que está em excesso. Como não se pode urinar açúcar, para eliminar a glicose é preciso diluí-la em água, com isso, o volume de urina aumenta. O excesso de água perdido na urina causa desidratação e contribui ainda mais para a sede.
- Fome: Como as células não conseguem captar glicose, o corpo interpreta isso como um estado de falta de alimento e gera fome. O diabético bebe muita água e não mata sede. Come e não mata a fome.

- Emagrecimento: O diabetes é uma das causas de emagrecimento sem perda de apetite.

- Visão borrada: Níveis elevados de glicose também causam alterações na acuidade visual, que às vezes podem ser confundidos com miopia pelos pacientes.

Cetoacidose diabética

A cetoacidose diabética é uma complicação do diabetes tipo 1, devido a ausência de insulina. Como as células não recebem glicose, ela precisam arranjar outra fonte para gerar energia e não morrer. A solução é queimar gordura. O problema é que além de não gerar tanta energia como a glicose, a metabolização das gorduras gera uma quantidade imensa de ácidos (chamados de cetoácidos) levando a cetoacidose. O pH do sangue cai muito e pode chegar a níveis incompatíveis com a vida se não for tratado rapidamente.

Ocorre normalmente com glicemias maiores que 500 mg/dl

Estado hiperosmolar

O estado hiperosmolar é a complicação do diabetes 2 análoga a cetoacidose do diabetes 1. Como o problema não é a ausência da insulina, não ocorre a produção de cetoácidos, porém, a glicemia pode ultrapassar 1000 mg/dl. Tanta glicose deixa o sangue espesso e com uma osmolaridade elevadíssima podendo levar ao coma hiperosmolar.

Tanto a cetoacidose quanto o estado hiperosmolar têm quadro clínico semelhante. O doente apresenta desidratação grave, alterações do nível de consciência, respiração rápida e dor abdominal (estes dois últimos são mais comuns na cetoacidose).

Ambas são consideradas urgências médicas.

São normalmente desencadeados por má aderência ao tratamento, com descontrole da glicemia, mas também por infecções, uso de drogas, infartos, AVC e outros fatores de estresse.

Complicações do diabetes mellitus

O excesso de glicose sanguínea e as alterações metabólicas levam a um estado de inflamação crônica que propicia o aparecimento de todas as complicações à longo prazo do diabetes:

- Infarto do miocárdio
- AVC / Derrame
- Insuficiência renal
- Cegueira- Insuficiência arterial e amputações de membros- Acometimento dos nervos periféricos- Úlceras de pele.- Síndrome do túnel do carpo

Pé diabético

O pé diabético é uma complicação comum do diabetes mal tratado. A diminuição do aporte de sangue e a lesão dos nervos (neuropatia diabética) dos membros inferiores, diminuem a sensibilidade do pé e das pernas fazendo que o paciente lesione esta região sem sentir dor. A dor é um dos nossos principais mecanismos de defesa e nos indica que algo de errado está acontecendo. Os doentes com neuropatia diabética não notam quando há algo ferindo seus pés, por isso, não tomam as devidas providências para proteger a pele.

É comum a formação de úlceras e em casos avançados pode ser necessário amputação do membro devido a necrose.

O diabetes também é a principal causa de insuficiência renal no mundo. Pode não só levar o doente à diálise como também causar síndrome nefrótica pelo excesso de perda de proteínas na urina. O controle da proteinúria é um dos principais meios de evitar progressão da doença renal.

Uma imagem triste, mas comum, é a do paciente cego, com uma perna amputada, ligado à uma máquina de hemodiálise e que, depois de alguns anos, morre de infarto fulminante. Típico epílogo do diabético mal tratado.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Doenças Auto-imunes - Lúpus


O lúpus eritematoso sistêmico (LES ou lúpus) é uma doença autoimune do tecido conjuntivo, de causa desconhecida que pode afetar qualquer parte do corpo. Assim como ocorre em outras doenças autoimunes, o sistema imune ataca as próprias células e tecidos do corpo, resultando em inflamação e dano tecidual. Uma a cada duas mil pessoas possui esse problema, sendo mais comum em mulheres negras e latinas (atingindo 1 a cada 245).

Prevalência

A doença ocorre nove vezes mais frequentemente em mulheres do que em homens, especialmente entre as idades de 15 e 50 anos, sendo mais comum em mulheres e pessoas de descendência africana ou nativos-americanos. No Brasil devemos ter entre 16.000 e 80.000 casos de Lúpus sistêmico.

Existe uma predominância quanto a:
  • Sexo: Há um nítido predomínio no sexo feminino (8 mulheres em cada 10 portadores), aparecendo geralmente durante os anos férteis (damenarca à menopausa)
  • Faixa etária: Os primeiros sintomas ocorrem geralmente entre os 20 e 40 anos. Com maior incidência maior ao redor dos 30 anos.
  • Localidade: É mais comum nos países tropicais, onde a luz do Sol é mais forte.
  • Prevalência: Varia entre 1 a 1000 nos países tropicais e até 1 a 10000 nos países frios.
  • Prevalência étnica e feminina: 1:700 para mulheres e 1:245 para mulheres negras, nos EUA.

Classificação

Existem três tipos de Lúpus: o lúpus discóide, o lúpus sistêmico e o lúpus induzido por drogas.

Lúpus discóide

É sempre limitado à pele. É identificado por inflamações cutâneas que aparecem na face, nuca e couro cabeludo. Aproximadamente 10% das pessoas Lúpus Discóide podem evoluir para o Lúpus Sistêmico, o qual pode afetar quase todos os órgãos ou sistemas do corpo.

Lúpus sistêmico

Costuma ser mais grave que o Lúpus Discóide e pode afetar quase todos os órgãos e sistemas. Em algumas pessoas predominam lesões apenas na pele e nas articulações, em outras pode haver acometimento dos rins, coração, pulmões ou sangue.

Lúpus induzido por drogas

O lúpus eritematoso induzido por drogas ocorre como conseqüência do uso de certas drogas ou medicamentos. A lista atual de possíveis responsáveis inclui quase uma centena de drogas sendo os mais conhecidos a procainamida e a hidralazina. Os sintomas são muito parecidos com o lúpus sistêmico. Os próprios medicamentos para lúpus também podem levar a um estado de lúpus induzido. Com a suspensão do medicamento responsável, os sintomas normalmente desaparecem.

Sinais e sintomas

Possui grande variedade de sintomas que se assemelham ao de várias outras doenças e, em geral, são intermitentes dificultando assim o diagnóstico precoce. Os primeiros sintomas mais comuns são:
  •  Febre
  •  Mal-estar
  • Inflamação nas articulações
  • Inflamação no pulmão (pleurisia)
  • Inflamação dos gânglios linfáticos
  •  Dores pelo corpo (por causa das inflamações)
  • Manchas avermelhadas
  • Úlceras na boca (aftas)

A detecção precoce pode prevenir lesões graves no coração, articulações, pele, pulmões, vasos sanguíneos, fígado, rins e sistema nervoso. O desenvolvimento da doença está ligado à predisposição genética e fatores ambientais, como luz ultravioleta e alguns medicamentos, como hidralazina, procainamida e hidantoinatos. Com o tempo as reações imunológicas causam lesões teciduais, formação de complexos antígeno-anticorpo e fixação de complemento, além de citotoxicidade mediada por anticorpos (anti-hemácias, antiplaquetários e antilinfócitos).

Tratamento
·         O uso de protetor solar para UVA e UVB é necessário para impedir o agravamento das lesões na pele
·        Prevenir infecções. Os sintomas gerais na maioria das vezes respondem ao tratamento das outras manifestações clínicas. A febre isolada pode ser tratada com aspirina ou antiinflamatórios não-hormonais. Corticóides e imunossupressores (especialmente a ciclofosfamida) são indicados nos casos mais graves.
·         É recomendado o uso de antimaláricos como cloroquina no caso de lesões cutêneas disseminadas. Caso não melhore pode-se associar prednisona em dose baixa a moderada por curto período de tempo.
·         Como não existe um diagnóstico muito preciso para as doenças chamadas auto-imunes, deve-se ter cuidado ao administrar medicamentos, uma vez que seus efeitos colaterais podem ser muito agressivos ao organismo.
·         Gestantes portadoras de lúpus necessitam de um acompanhamento médico rigoroso ao longo da gravidez, visto que a doença pode atingir também o feto. É contraindicada em caso de problemas renais. Durante o aleitamento é recomendado um intervalo de 4h entre a tomada da medicação e a amamentação. Vacinas contra pneumococos e influenza são seguras. O uso de aspirina em baixas doses pode conter os efeitos do anticorpo antifosfolípede, associado ao lúpus neonatal.
·         As vacinas com vírus vivos não devem ser prescritas a pacientes com LES. Já as vacinas contra pneumonia e gripes são comprovadamente seguras.

Em caso de suspeita, procure um médico.





quarta-feira, 4 de maio de 2011

Doenças Autoimunes - Vitiligo e Psoríase

Vitiligo 

É uma doença não-contagiosa em que ocorre a perda da pigmentação natural da pele. Sua etiologia ainda não é bem compreendida, embora o fator autoimune pareça ser importante. Contudo, estresse físico, emocional e ansiedade são fatores comuns no desencadeamento ou agravamento da doença. Patologicamente, o vitiligo caracteriza-se pela redução no número ou função dos melanócitos, células localizadas na epiderme responsáveis pela produção do pigmento cutâneo — a melanina. A doença pode surgir em qualquer idade, sendo mais comum em duas faixas etárias: 10 a 15 anos e 20 a 40 anos.

Essa despigmentação ocorre geralmente em forma de manchas brancas (hipocromia) de diversos tamanhos e com destruição focal ou difusa. Pode ocorrer em qualquer segmento da pele, inclusive na retina (olhos). Os locais mais comuns são a face, mãos e genitais. Os pêlos localizados nas manchas de vitiligo se tornam esbranquiçados. O local atingido fica bastante sensível ao sol, podendo ocorrer sérias queimaduras caso exposto ao sol sem protetor, conferindo um risco para o desenvolvimento de câncer de pele.

Psoríase

É uma doença de pele genética auto-imune. A palavra vem do grego e significa erupção sarnenta. É uma doença crônica, hiperproliferativa da pele, de etiologia desconhecida, mostrando uma grande variedade na severidade e na distribuição das lesões cutâneas. Na maioria dos casos, apenas a pele é acometida, não sendo observado qualquer comprometimento de outros órgãos ou sistemas. Em pequenas percentagens e casos, há artrite associada. Homens e mulheres são atingidos de igual forma, na faixa etária entre 20 e 40 anos, podendo, no entanto, surgir em qualquer fase da vida e com grande frequência em pessoas da pele branca, sendo raras em negros, índios, asiáticos e não existe entre esquimós.

Como é uma doença que afeta a pele, órgão externo e visível, esta doença tem efeitos psicológicos não negligenciáveis. Com efeito, como a forma como cada indivíduo se vê está relacionada com a valorização pessoal numa sociedade que é, muitas vezes, mais sensível à aparência exterior que a outras características da personalidade, o melhor cuidado a ter com uma pessoa afetada por esta doença é dar-lhe apoio psicológico (ternura, carinho, afeto e atenção).
Muitas vezes a artrite psoriática (ou artrite psoriásica) é confundida com a gota, em função de existirem sintomas semelhantes, como articulações inflamadas e extremamente doloridas. Para que se faça um diagnóstico preciso, é necessário procurar um bom reumatologista que faça um estudo do histórico de doenças que o indivíduo já teve, além de seus familiares, por ser uma doença hereditária. Às vezes é necessário fazer-se uma artroscopia. Pode-se tratar durante anos equivocadamente os sintomas da psoríase como se fossem manifestações de outras doenças. Por exemplo: dores lombares e rigidez matinal podem ser confundidas com problemas na coluna vertebral; deformações nas unhas podem ser confundidas com ataque de fungos; feridas e escamações no couro cabeludo, atrás das orelhas e nas sobrancelhas podem ser confundidas com dermatite seborréica.

Manifesta-se com a inflamação nas células da pele, chamadas queratonócitos, provocando o aumento exagerado de sua produção, que vai se acumulando na superfície formando placas avermelhadas de escamação esbranquiçadas ou prateadas. Isso em meio a um processo inflamatório e imunológico local. O sistema de defesa local, formado pelo linfócitos T, é ativado como se a região cutânea tivesse sido agredida. Em consequência, liberam substâncias mediadoras da inflamação, chamadas citocinas que aceleram o ritmo de proliferação das células da pele.
Estas descobertas recentes são importantes para que drogas atuem somente nos locais afetados, diminuindo os efeitos colaterais e aumentando a sua eficácia. Atualmente estão sendo testados mais de trinta medicamentos em todo o mundo. Os lugares de predileção da psoríase são os joelhos e cotovelos, couro cabeludo e região lombossacra - todos locais frequentes de traumas (fenômeno de Koebner).

Tipos de psoríase: psoríase em placas, psoríase invertida, psoríase em gotas, psoríase palmoplantar, psoríase pustulosa, psoríase eritrodemia e psoríase artropática.
O entendimento da psoríase é tão complexo que parece não uma doença, mas várias em uma só. Sendo assim imprevisível a sua evolução ou regressão.