domingo, 26 de setembro de 2010

O Que é ELA?

O primeiro passo para você conhecer melhor a esclerose lateral amiotrófica, e principalmente entender seus mecanismos e forma de atuação, é saber o que significa. E não esqueça: a qualidade de informação é a principal ferramenta para se conviver com esse tipo de doença.
O que significa ELA?
ELA é a abreviatura de Esclerose Lateral Amiotrófica, uma doença cujo significado vem contido no próprio nome:
  • Esclerose significa endurecimento e cicatrização.
  • Lateral refere-se ao endurecimento da porção lateral da medula espinhal.
  • E amiotrófica é a fraqueza que resulta na atrofia do músculo. Ou seja, o volume real do tecido muscular diminui.
Dessa forma, Esclerose Lateral Amiotrófica significa fraqueza muscular secundária por comprometimento dos neurônios motores.
Qual a característica principal da esclerose lateral amiotrófica?
A degeneração progressiva dos neurônios motores no cérebro (neurônios motores superiores) e na medula espinhal (neurônios motores inferiores), ou seja, estes neurônios perdem sua capacidade de funcionar adequadamente (transmitir os impulsos nervosos).
O que são neurônios motores?
Primeiro, é importante saber que neurônio é uma célula nervosa especializada, diferente das outras células do corpo humano porque apresenta extensões q ue realizam funções especiais. No caso dos neurônios motores, eles são responsáveis pelos movimentos de contração e relaxamento muscular.
O que essa degeneração provoca?
Quando os neurônios motores não podem mais enviar impulsos para os músculos, começa a ocorrer uma atrofia muscular, seguida de fraqueza muscular crescente. No caso da ELA, compromete o 1º neurônio superior e o 2º neurônio inferior.
Quais são as partes do corpo que a doença não afeta?
O raciocínio intelectual, a visão, a audição, o paladar, o olfato e o tato. Na maioria dos casos, a esclerose lateral amiotrófica não afeta as funções sexual, intestinal e vesical.
Quem tem mais probabilidade de desenvolver ELA?
Segundo pesquisas, a ELA se desenvolve mais em homens do que em mulheres, mais em brancos do que em negros, e geralmente está associada à faixa etária acima de 60 anos.
Como o paciente com ELA costuma reagir em relação ao seu dia-a-dia?
Geralmente, os pacientes com ELA se cercam de pessoas ligadas à vida, raramente ficam deprimidos, são pessoas especiais e apaixonantes, buscam esclarecimento e novas possibilidades de tratamento para a doença, e principalmente lutam constantemente pela dignidade de vida.

História da ELA
Apesar de ser uma doença rara e complexa, a Esclerose Lateral Amiotrófica já era estudada desde o século passado.
Os indícios de um mal que causava paralisia progressiva dos membros e da língua nas pessoas começou a se configurar em 1830, ao ser retratado por Sir Charles Bell, famoso anatomista e cirurgião britânico.
Já em 1848, François Aran, famoso clínico e autor de textos médicos, descreveu uma nova síndrome, caracterizada por fraqueza muscular progressiva de natureza neurológica.
Para a literatura médica, o ano de 1853 acenou com o primeiro caso reconhecível de ELA: o de Prosper Laconte, dono de um circo francês.
Mas somente 16 anos depois, em 1869, as características essenciais para o reconhecimento da ELA foram determinadas, após uma série de estudos realizados por dois médicos franceses: Joffroy e Jean-Martin Charcot; este, primeiro professor de neurologia na Salpêtrière.
O Dr. Charcot foi o primeiro a ligar os sintomas com um grupo de células especificamente afetados pela doença - os neurônios motores. Também coube a Charcot a descrição da paralisia bulbar progressiva (PBP) e da esclerose lateral primária (ELP), consideradas por ele distintas da esclerose lateral amiotrófica.
Várias pesquisas foram realizadas por inúmeros médicos e cientistas, na tentativa de avançar sobre os conhecimentos da doença.
Foi assim que, em 1933, Brain introduziu o termo doença do neurônio motor (DNM) para todas essas doenças, aparentemente distintas. E foi também Brain, junto com outro médico de nome Walton que, em 1939, consideraram DNM e ELA sinônimos.
Causas e Sintomas ELA
O que causa a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA)?
Até o momento, não se conhece a causa específica desta doença. Existe sim, a possibilidade de causas multifatoriais onde estariam envolvidos um componente genético, a idade e algumas substâncias do meio ambiente. Mas, a princípio, não se conhece nenhum fator que predisponha à ELA, nem como é possível prevenir o desenvolvimento da doença.
O que as pesquisas vêm detectando? 
Os últimos experimentos realizados com camundongos, alguns deles com quadro clínico semelhante ao de ELA nos humanos, têm permitido entender melhor o porquê da lesão da célula nervosa. Parece que a falta de uma proteína denominada parvalbumina é a chave essencial para este processo de morte celular.
Quais são os pontos necessários para o estudo clínico da doença?
No caso de ELA, o diagnóstico precoce e o tratamento.
Existe algum tipo de diagnóstico precoce que oriente os médicos quando do ínicio da doença?
Não. Esse é o principal motivo pelo qual a ELA quase sempre não é diagnosticada em sua fase inicial. Por outro lado, a Ciência busca tal "marcador" (que funcione como uma "pista" para o médico, dizendo se a pessoa pode ou não vir a desenvolver ELA), pois sabe que o ideal para combater a doença é iniciar o tratamento antes do primeiro neurônio morto.
Quanto tempo, em média, leva para se fazer um diagnóstico correto da doença?
Atualmente, levam-se de 10 a 11 meses, do primeiro sintoma à confirmação do diagnóstico. A falta de conhecimento faz com que o paciente procure primeiro um ortopedista. Para se ter uma idéia, nesse espaço de tempo (de 10 a 11 meses) o paciente passa, em média, por 4 médicos; dois deles, ortopedistas.
Sintomas ELA

Qual é o primeiro sintoma que caracteriza a ELA?
A fraqueza muscular.
O que esse sintoma desencadeia?
Essa fraqueza muscular é progressiva, seguida da deterioração dos músculos (amiotrófica), começando nas extremidades, usualmente em um lado do corpo (lateral). Dentro do corpo, as células nervosas envelhecem (esclerose) e os nervos envolvidos morrem, deixando o paciente cada vez mais limitado.
Existem outros sintomas que acompanham a fraqueza?
Sim. São eles: fasciculação (tremor do músculo), reflexos exaltados, atrofia, espasticidade e diminuição da sensibilidade. E de todos os sintomas, o mais freqüente é a cãibra.
Como a ELA começa a se manifestar?
Geralmente, a ELA começa pelos membros superiores; eventualmente, pelos membros inferiores.
Existe uma forma mais agressiva de ELA?
Sim, quando ocorre a paralisia bulbar progressiva (ataca a língua e a glote). Com isso, o paciente deixa de mastigar e falar, passando a diminuir rapidamente de peso.
Quais são os fatores de risco para alguém desenvolver ELA?
Os fatores de risco, com efeito cumulativo (quanto mais características, maior a probabilidade) são: pertencer ao sexo masculino, desempenhar atividade física intensa, ter sofrido algum tipo de trauma mecânico, ter sido vítima de choque elétrico.

Doença Neurônio Motor
O que é Doença do Neurônio Motor?
Doença do neurônio motor é um subgrupo de doenças da unidade motora. Defeitos na unidade motora podem afetar o nervo ou o músculo.
Neste caso, uma doença do neurônio motor é um defeito geral na maneira pela qual um neurônio motor interage com seu músculo associado. Isto pode ser uma disfunção do neurônio em si, ou dos neurônios do tronco superior que influenciam diretamente sua ação.
A ELA pode ser considerada um distúrbio?
Não. A esclerose lateral amiotrófica é uma doença do neurônio motor, e não apenas um distúrbio, porque apresenta um conjunto específico de sinais e sintomas.
Isso acaba dificultando um diagnóstico da doença num curto espaço de tempo?
Sim. O que costuma dificultar o médico no diagnóstico da doenca é a semelhança dos sintomas da ELA com outras doenças do Neurônio Motor. Tais doenças são caracterizadas pelos subconjuntos de sintomas da ELA. Além disso, alguns grupos de nervos que são afetados na ELA são também afetados nestas doenças.

Sistema Nervoso
De que forma é composto o sistema nervoso?
O sistema nervoso é considerado como dois sistemas anatômicos: o Sistema Nervoso Central e o Sistema Nervoso Periférico.
O Sistema Nervoso Central envolve o cérebro e a medula espinhal. É a parte do sistema nervoso que processa as informações.
Já o Sistema Nervoso Periférico inclui todos os nervos fora do Sistema Nervoso Central, e é a parte do sistema nervoso que recebe as informações e permite que o corpo responda de acordo. Além disso, o Sistema Nervoso pode ser descrito com base em suas funções ou sua distribuição espacial no corpo.
Como se comporta a distribuição funcional do sistema nervoso?
Em relação à parte funcional, existem dois tipos de vias neurais para receber e enviar informações. São as chamadas vias aferentes e eferentes.
O que são nervos aferentes?
Os nervos aferentes são aqueles afetados por seus arredores, e conhecidos como neurônios sensoriais. Eles sentem o ambiente (tal como dor, calor, pressão) e quaisquer alterações no ambiente, e informam ao Sistema Nervoso Central.
E nervos eferentes?
Os nervos eferentes produzem efeitos em seus arredores e são constituídos pelos neurônios motores.
Qual a função de um nervo eferente?
Depois que o Sistema Nervoso Central recebe as informações dos neurônios sensoriais, o cérebro decide o que fazer a seguir. Ele transmite esta decisão para o restante do corpo via nervos eferentes; estes, por sua vez, entre outras ações, são responsáveis pelos movimentos de contração e relaxamento muscular.
Que parte do sistema nervoso é afetado pela ELA?
Na ELA, somente o sistema eferente (neurônios motores) deteriora-se. Todas as funções sensoriais e intelectuais do paciente permanecem intactas.
E quanto à distribuição espacial dos neurônios?
A distribuição espacial dos neurônios motores pode ser descrita pela sua posição no corpo. Eles são comumente conhecidos como Neurônios Motores Inferiores (NMI) e Neurônios Motores Superioes (NMS).
De que forma os NMI podem se apresentar?
Os NMI podem estar sob a forma de nervos espinhais. Eles se estendem da espinha para áreas e todo o tronco e membro. Eles podem também estar sob a forma de nervos cranianos que originam-se na extremidade superior da medula espinhal e ligam-se aos músculos em várias regiões da cabeça, incluindo a boca, garganta, olhos e face.
E os NMS?
Os NMS originam-se na parte frontal do cérebro (o córtex motor) e estendem-se até a extremidade superior da medula espinhal (pirâmide) ou promovem sinapse com os NMI da medula espinhal. Os NMS que se conectam aos nervos cranianos não entram na medula espinhal, porém estão presentes dentro do cérebro.
(continua na próxima publicação)